Sunday, September 17, 2006

gosto tanto...

Gosto particularmente deste post. Não dá saudades de ser menina?

Saturday, September 16, 2006

Procura

Mulheres que falam sobre mulheres. Gosto de estar rodeada de amigas, das cumplicidades que se geram nessas conversas, dos risos e dos abraços, dos pequenos afectos e brincadeiras. Dos pormenores sem importância que se trocam, mas que significam tanto. Mulheres verdadeiras, que se respeitam e admiram. Amigas, portanto, porque era disso que falava.

Quantas vezes me esqueço de como gosto desses momentos e deixo passar semanas sem conversas assim. Depois, um telefonema, uma mensagem, um mail e lembro-me. Quantas vezes me deixo ficar numa ilha, sem qualquer pontão de ligação a esse mundo de risos e cumplicidades, até que os mantimentos se esgotam e tenho de voltar a terra. Quando regresso, digo sempre que devia construir uma ponte e cruzá-la pelo menos uma vez por dia. Mas esqueço-me outra vez e, de despensa cheia, volto à ilha.

Lembro-me de ser pequena e gostar de me deixar ficar no terraço da minha avó, noite quente de Setembro e estrelas cadentes, a ouvir conversas entre velhas mulheres. Espantada com a alegria e as gargalhadas, contente com o à-vontade de uma piada, só a ouvir o que diziam e a desejar um dia ter noites de Setembro assim. Mágicas.

Fui passando por amigas, que o tempo se encarregou de afastar. Ou manter. Procuro cumplicidades, conversas francas de pé-de-orelha. Deixei de ter paciência para cusquices sobre a vizinha do lado ou sobre o casamento do colega de trabalho. Deixei de ter paciência para invejosas e maldicentes. Talvez por isso, uma ilha.

Um dia, disseram-me que procuro uma mãe. Alguém com quem consiga conversar, sorriso nos lábios, alegria no coração, mimos nos tempos de fraqueza, sabedoria para conselhos e respeito. Uma mãe-melhor-amiga, daquelas que não tive.

Enquanto procuro, vou encontrando tantas mulheres.

Saturday, August 05, 2006

uma parte de mim


Convidada para escrever alguma coisa neste blog, achei por bem começar por me descrever, por me apresentar.
Sem saber bem por onde começar, tentei pensar naquilo que é mais importante para mim e lembrei-me das atmosferas.
Sabem como é quando vemos um filme ou lemos um livro e nos deparamos com uma descrição perfeita da pessoa que nós somos? Ou pelo menos daquilo que seríamos se tivessemos a coragem suficiente para nos deixarmos ser? Simplesmente sermos?
Pois eu senti isso quando vi o filme The Sheltering Sky – Um Chá no Deserto, de Bernardo Bertolucci.
Não conheço ninguém mais parecido comigo do que a Kitty, pelo menos segundo as palavras do Porter quando diz que «Kit has days when everything in the world is merely a sign for something else. A white Mercedes can't just simply be a white Mercedes. It must have a secret meaning about the whole of life.» Mas isto é mesmo verdade, não é? A realidade tem sempre algo mais do que aquilo que estamos a viver, não é? Algo de mágico.

A magia é essencial na vida.
As atmosferas mágicas formam-se precisamente por causa dessas energias que estão por detrás das coisas e que apenas conseguimos adivinhar. Acontece isso com tudo: objectos, música, paisagens, pessoas. Por isso sabemos imediatamente se vamos ou não gostar de alguém, se vamos ou não sentirmo-nos bem numa dada paisagem, num certo ambiente. Por isso confiamos imediatamente numa pessoa desconhecida. É por causa dessa magia que sonhamos, é por causa dessa magia que é tão bom viver. É por ela existir que eu adoro viver.
Para mim os ambientes têm que ter intimismos poderosos. Penso que é aí que reside toda a minha feminilidade. Nos ambientes sonoros, coloridos, aromáticos… enfim na importância que eu dou aos sentidos. Afinal esse significado “oculto” reside nisso mesmo, não é? Na subtileza com que cada um dos nossos sentidos se vai apercebendo de pequenos elementos que a razão deixa de lado. Se assim não fosse, eu nunca poderia escrever, por exemplo que «As velhas paredes de pedra em bruto repercutiam e ampliavam as imagens sugeridas pela música transformando a sala num templo de sons e cores. A música criava imagens acústicas sugestivas dos ambientes desérticos onde o sonho americano ainda é possível, evocando cenários quentes de David Lynch.»
Pensam que estas palavras são apenas uma tentativa de colocar poesia num ambiente? Pelo contrário, é uma tentativa de colocar em palavras os elementos com que eu vivo às vezes, colocar por escrito a magia que eu sinto no dia-a-dia, descrever o tal “oculto” que existe na minha vida.

Thursday, July 27, 2006

Temos a mesma lua

Há um tipo de relação que só se tem com as pessoas que têm a lua no mesmo signo. Relação de conforto e de confiança. Relação de proximidade, de toque das ideias e dos paladares. De “já te conheço desde sempre e és minha irmã”. Podemos repousar no que somos. Podemos dizer tudo, e podemos não dizer nada. Quando dizemos tudo, dizemos mesmo tudo. Sem armas, sem barreiras, e sabemos que somos aceites, que seremos sempre aceites. E podemos ficar dias e noites a falar, e podemos passar meses sem nos ver.

Sabemos de onde viemos. Temos uma memória comum, a memória de danças e fogueiras, de risos e poemas. Conhecemos as nossas fraquezas e forças, sabemos de que somos feitas.

E damos tanto espaço. Para ser e viver. Para continuar, para sentir, para crescer.

Ao mesmo tempo, és outra parte de mim. A outra parte que eu poderia ter sido ou que também sou. Outra parte que amo como se vê as flores crescer. É tão imenso, tão profundo.

És feita dos mesmo material das minhas mãos quando pintam.