Saturday, August 05, 2006

uma parte de mim


Convidada para escrever alguma coisa neste blog, achei por bem começar por me descrever, por me apresentar.
Sem saber bem por onde começar, tentei pensar naquilo que é mais importante para mim e lembrei-me das atmosferas.
Sabem como é quando vemos um filme ou lemos um livro e nos deparamos com uma descrição perfeita da pessoa que nós somos? Ou pelo menos daquilo que seríamos se tivessemos a coragem suficiente para nos deixarmos ser? Simplesmente sermos?
Pois eu senti isso quando vi o filme The Sheltering Sky – Um Chá no Deserto, de Bernardo Bertolucci.
Não conheço ninguém mais parecido comigo do que a Kitty, pelo menos segundo as palavras do Porter quando diz que «Kit has days when everything in the world is merely a sign for something else. A white Mercedes can't just simply be a white Mercedes. It must have a secret meaning about the whole of life.» Mas isto é mesmo verdade, não é? A realidade tem sempre algo mais do que aquilo que estamos a viver, não é? Algo de mágico.

A magia é essencial na vida.
As atmosferas mágicas formam-se precisamente por causa dessas energias que estão por detrás das coisas e que apenas conseguimos adivinhar. Acontece isso com tudo: objectos, música, paisagens, pessoas. Por isso sabemos imediatamente se vamos ou não gostar de alguém, se vamos ou não sentirmo-nos bem numa dada paisagem, num certo ambiente. Por isso confiamos imediatamente numa pessoa desconhecida. É por causa dessa magia que sonhamos, é por causa dessa magia que é tão bom viver. É por ela existir que eu adoro viver.
Para mim os ambientes têm que ter intimismos poderosos. Penso que é aí que reside toda a minha feminilidade. Nos ambientes sonoros, coloridos, aromáticos… enfim na importância que eu dou aos sentidos. Afinal esse significado “oculto” reside nisso mesmo, não é? Na subtileza com que cada um dos nossos sentidos se vai apercebendo de pequenos elementos que a razão deixa de lado. Se assim não fosse, eu nunca poderia escrever, por exemplo que «As velhas paredes de pedra em bruto repercutiam e ampliavam as imagens sugeridas pela música transformando a sala num templo de sons e cores. A música criava imagens acústicas sugestivas dos ambientes desérticos onde o sonho americano ainda é possível, evocando cenários quentes de David Lynch.»
Pensam que estas palavras são apenas uma tentativa de colocar poesia num ambiente? Pelo contrário, é uma tentativa de colocar em palavras os elementos com que eu vivo às vezes, colocar por escrito a magia que eu sinto no dia-a-dia, descrever o tal “oculto” que existe na minha vida.

2 comments:

Anonymous said...

Os sentidos deflagram esse conhecer à primeira impressão... o gostar (ou não) à primeira vista, enfim, o que contra balança os elementos da rotina diária.

Interessante e muito bacana o que foi discorrido em seu texto.

Parabéns.

Veja - e comente - o meu blog, também. "fatosecronicas.uniblog.com.br" -> SEM o WWW.

Marília de Dirceu said...

que maravilhoso ler palavras tão sensíveis...
estou adorando este blog...